acrônica
Minha Irmã, a Serial Killer Goodreads
My Sister, the Serial Killer
author: Oyinkan Braithwaite Kapulana 2019
Em Minha Irmã, a Serial Killer (My Sister, the Serial Killer), a nigeriana Oyinkan Braithwaite conta uma história ao mesmo tempo bem-humorada e assustadora sobre duas irmãs com temperamentos e atitudes bem diferentes uma da outra: Korede e Ayoola.

Korede é amargurada, mas pragmática. Sua irmã mais nova, Ayoola, é a filha favorita, a mais bonita, e, possivelmente, com sérios distúrbios comportamentais. Seus três últimos namorados aparecem mortos. As duas irmãs desempenham papéis inusitados nessa trama de suspense e relações emocionais complexas.

Oyn conduz com maestria literária esse thriller psicológico que surpreende e encanta o leitor a cada página. Conta uma história cheia de suspense e mistério, com humor peculiar e ácido, sem deixar de lado a complexidade da mente de uma sociopata.
Oct. 30, 2025 reading leitura do mês do #acrônica
acrônica
Floresta é o Nome do Mundo Open Library Goodreads
The Word for World is Forest
author: Ursula K. Le Guin translator: Heci Regina Candiani Morro Branco 2020 - 10
O planeta Athshe era um verdadeiro paraíso, coberto por densas e colossais florestas. Seus habitantes, humanoides com pouco mais de um metro de altura e corpos cobertos por pelos verdes e sedosos, viviam em paz.

Então outros vieram. Muito mais altos e de pele lisa, eles caíram do céu e começaram a desbravar o território ao seu redor, enxergando os nativos como meros animais selvagens. Eles vieram de um mundo em ruínas e superpovoado, faminto por matérias-primas, madeira e grãos: a Terra.

Sem precedentes culturais para tirania, escravidão ou guerra, os nativos encontram-se à mercê de seus novos e brutais colonizadores.

Quando o desespero atinge níveis inimagináveis, uma revolução é inevitável. Cada golpe contra os invasores será um golpe contra sua própria humanidade. Mas os conquistadores alienígenas os ensinaram a odiar... e não há como voltar atrás.
Oct. 25, 2025 read
Oct. 25, 2025 Review "a substância de seu mundo não era a terra, mas a floresta" - "floresta é o nome do mundo" tem uma estrutura caleidoscópica, múltipla como a floresta. em vez de uma narrativa exatamente coesa, o que temos são diferentes perspectivas, nenhuma delas unificadora do todo. don davidson representa a mentalidade colonizadora em seu ápice destrutivo. é um homem arrogante, que direciona sua violência a tudo que seja vulnerável. ele por si só é um homem fraco. sua força vem de apetrechos: instrumentos mecânicos como armas de fogo e gafanhotos (os meios de transporte aéreo do livro), além de um status privilegiado nas hierarquias da colônia. "os fracos conspiram contra os fortes, o homem forte tem de ser independente e cuidar de si" (cap. 7) em athshe, uma terra cheia de vida, davidson vê apenas alvos: "creechies" aparentemente inofensivos que se escondem em tocas no meio da mata. árvores e demais seres, para don, são como objetos inertes, apenas aguardando para serem domesticados por ele. visão que se mostra extremamente enganosa. a agressividade de don em relação ao selvagem, em algum nível, é reação ao seu próprio medo inconsciente de ser engolido pela floresta. "nada era puro, seco, árido, simples. faltava revelação. não havia como enxergar tudo de uma vez; nenhuma certeza." (cap. 2) tanto lyubov como davidson, a seu próprio modo, temem a floresta. pois a floresta é escura, e em suas raízes (que carregam o mesmo nome da palavra "sonho", em athsheano) estão o inconsciente e os sonhos. don renega esse receio, e essa repressão extravasa em uma reação muito mais berrante. lyubov está consciente desse medo, mas tenta fazer as pazes com ele. diferente de don, que quer eliminar o que ele desconhece, lyubov crê que pode apreender a floresta. para ele, o que é visto como aleatório ou caótico é na verdade uma série de padrões extremamente complexos. já selver, antes do contato com os humanos, é como os demais athsheanos. diferentemente de nós, autodenominados racionais porém dirigidos por uma série de impulsos que não temos conhecimento ou controle, os athsheanos estão em contato constante com sua interioridade. não há, para eles, distinção clara entre o inconsciente e o consciente. eles fazem parte da floresta, e vivem em intercâmbio com esse sistema, partilhando sensações e sonhos. no entanto, com a chegada dos humanos, algo muda. selver passa a ter pensamentos violentos, como resultado das opressões sofridas. selver é, portanto deus-criador de um novo tipo de pensamento, que passa a circular nas mentes de seu povo tal qual um vírus. num primeiro instante, a agressividade é útil em eliminar os humanos e reestabelecer o estado original das coisas. mas é um equilíbrio ilusório, pois nesse sistema aparentemente intacto há um novo elemento. este livro foi o meu primeiro da ursula k. le guin, e provavelmente não será o último. ele faz parte do que os críticos denominaram como o "ciclo hainish" da autora. imagino que alguns temas e simbologias da autora ou desse ciclo ficaram perdidos em mim, mas a narrativa é bem inteira e riquíssima por conta própria.
acrônica colonialismo ecologia ficção científica
O rio que me corta por dentro Goodreads
author: Raul Damasceno Astral Cultural 2025 - 6
Em Carrasco, lugarzinho perdido no sertão cearense, Cícero passa a infância à espera. A mãe, Aneci, trabalha como empregada doméstica na capital e volta apenas uma vez por ano, sempre em dezembro, para a terra que tanto a machucou e para o filho. E são nesses poucos dias que o garoto deságua em amor.

No restante do ano, Cícero aprisiona a saudade. E cultiva o sonho de ir. Ir embora com a mãe. Ir embora encontrar a mãe.

É só ao lado de Luzimar, vizinho e amigo, que a dor aquieta. Dois pares de pernas que correm Carrasco de ponta a ponta e desembocam na beira daquele rio que tudo leva, menos a saudade. Essa fica represada, à espera do próximo ano-novo.

Até que Aneci deixa de voltar.

Enquanto a espera se prolonga após dezembros de ausência, Cícero e Luzimar se descobrem homens ao se encontrarem um no outro. Mas ser homem nestas terras ― e nestas águas ― também significa saber escolher bem suas armas…

E a correnteza desse rio ainda tem muito passado para contar.
Sept. 9, 2025 read
o livro inteiro é um conjunto de metáforas poéticas cujo eixo principal é a tríade mar-rio-terra. cícero e luzimar são como o rio e o mar, mas a terra seca que os cerca tenta impedir um de desaguar no outro. cícero é um rapaz que não sente vergonha das emoções e de ver beleza nas coisas. mas tal qual o mar, com sua aparente paz, pode também ser impulsivo e revolto. já luzimar é o rio, arrastando tudo pelo caminho, mas cuja constância da sua correnteza traz um alento e uma calmaria à vida de cícero.

é interessante demais — e o livro nos convida a isso — se perder nessas metáforas. vez ou outra achei poético ou experimental demais com a estrutura, mas no geral isso não me impediu de ficar completamente envolvida pela narrativa e de me comover com a história.

foi bem legal ir reconhecendo certos falares e referências culturais que fazem parte da minha bagagem de coisas vividas como pessoa do nordeste, principalmente uma de família vinda do interior. essas coisas que, apesar de familiares a partir vida real, não tenho hábito de ver assim impressas em papel. ou ao menos não com tanta aparência de genuinidade.

(só não entendi bem pq ((a editora ou o autor ou sei lá quem)) colocou os termos mais particulares do linguajar nordestino/cearense/popular em itálico, mas não deixa de ser algo comum de se ver por aí. não faz sentido pensar que a ausência do itálico prejudicaria o entendimento do texto. me parece mais quase um pedido de desculpas por infringir a prestigiada norma culta portuguesa. sei lá, é só um detalhe, mas um q achei mt destoante do conteúdo do livro)

li para o clube de leitura #acrônica aqui do fediverso
acrônica ação ceará clube do livro lgbt+