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A cidade e a cidade Goodreads
author: China Miéville Boitempo Editorial 2015 - 10
Quando o corpo de uma mulher assassinada é encontrado na decadente cidade de Beszel, em algum lugar nos confins da Europa, parece apenas mais um caso trivial para o Inspetor Tyador Borlú, do Esquadrão de Crimes Extremos. Mas, à medida que avança a investigação, as evidências começam a apontar para conspirações muito mais estranhas e mortais do que ele poderia supor. Logo seu trabalho o coloca, e aqueles ao seu redor, em perigo e Borlú deve viajar à única metrópole na Terra tão estranha quanto a sua, por meio de uma fronteira sem igual.

Em uma envolvente e premiada narrativa, híbrido de thriller policial e ficção científica, aos poucos descobrimos que a jovem assassinada tinha envolvimento com a agitação política e cultural entre Beszel e sua "cidade gêmea", Ul Quoma. As duas cidades ocupam o mesmo espaço geográfico, mas constituem nações diferentes, monitoradas por um poder secreto conhecido como "Brecha". O habitante de uma cidade é educado desde a infância a "desver" a outra cidade, seus habitantes, suas construções e os eventos que lá ocorrem. Em ambas as cidades, ignorar a separação, mesmo sem querer, é considerado um crime terrível, ainda mais grave do que cometer um assassinato.

A cidade & a cidade é o livro de estreia de China Miéville na Boitempo, que publicará todos os seus romances no Brasil. Uma narrativa que arrebatou a crítica internacional e ecoa George Orwell, Franz Kafka, Raymond Chandler, Bruno Schulz e Philip K. Dick para tecer um comentário afiado, criativo e emocionante sobre as cidades e a tendência de vermos apenas o que queremos. A tradução é de Fábio Fernandes, especialista em ficção científica e cultura digital e responsável por importantes traduções de clássicos do gênero, como Laranja mecânica, 2001: uma odisseia no espaço e Neuromancer. A ilustração da capa é de Fábio Cobiaco.

Livro vencedor dos prêmios British Science Fiction Association, World Fantasy, Arthur C. Clarke e Hugo, o mais importante da categoria.
Feb. 5, 2017 read
Jan. 15, 2025 Review Resenha de A cidade & a cidade (China Miéville) - Pulando amarelinha A cidade & a cidade (China Miéville) Publicado originalmente em 04/07/2017 como: Pulando amarelinha. A cidade & a cidade (China Miéville) | by Diego | Ver mais… Textão! | Medium . Em  A cidade & a cidade,  China Miéville traz o gênero  New Weird , misturando elementos de romance policial e distopia, tingindo essas “roupas velhas” com novos tons, resultando na subversão da ordem de importância entre pano de fundo e trama. A narração, em primeira pessoa, é feita por Tyador Borlú, detetive da cidade-Estado chamada  Besźel . Ele deve investigar um assassinato de uma mulher e, à medida em que a trama avança, surge a hipótese do crime ter relação com a outra cidade-Estado,  Ul Qoma . Não são raras histórias de policiais resolvendo casos que estão fora de sua jurisdição [sic]. Eddie Murphy, com sua franquia  Um Tira da Pesada , é a prova irrefragável disso. Na pele de Axel Foley policial de Detroit (Michigan), ele vai até Beverly Hills (California) investigar o assassinato de seu amigo. As cidades americanas citadas estão geograficamente bem afastadas, uma quase na costa leste e outra na costa oeste (imagine o  Cristo Redentor , Detroit estaria em Seu cotovelo esquerdo e Beverly Hills na palma de Sua mão direita); a obra de Miéville traz um fator complicador: as cidades não estão próximas, mas imbricadas, ocupando o  mesmo  espaço físico! Esqueça a trama, venha ver as cidades! Coloque suas mãos, esquerda e direita, espalmadas no seu campo de visão. Agora cruze-as, como se fosse fazer aquele movimento de espreguiçar: temos aqui uma ideia da disposição territorial de  Besźel  e  Ul Qoma , nesta analogia, mão esquerda e direita, respectivamente. Continue observando suas mãos nessa posição (ai! deu câimbra!): note como, por exemplo, seu dedo médio direito sai de sua mão direita, mas suas duas últimas falanges estão totalmente em contato com as costas de sua mão esquerda. De forma semelhante, as ruas e terrenos de  Besźel  e  Ul Qoma  estão entrelaçados. Diferente da favela de Paraisópolis (foto no início do post), que possui um muro separando-a de um condomínio de luxo, no universo de Miéville esta foto estaria dobrada verticalmente (e colocada contra a luz), deixando condomínio e favela totalmente misturados. Achou esquisito ( weird )? Calma, que ainda tem mais! Lembre-se que estamos falando de cidades-Estado (assim como o Vaticano e Mônaco, por exemplo), ou seja, cada uma representa uma nação, um país diferente . E, uma vez que os territórios são entrelaçados, existem fronteiras separando-as? Sim, mas não se tratam de fronteiras físicas, mas psicológicas e burocráticas. Desde a infância os cidadãos de  Besźel , que frequentemente cruzam com pessoas da outra cidade, são treinados para ignorar os  ulqomanos  e vice-versa. Se, por acidente, o habitante de uma cidade olhar diretamente para o de outra deve, imediatamente,  desver . Algo difícil de compreendermos, arrisco dizer que seria semelhante ao que ocorre com algumas pessoas que passam por alguma situação-limite e acabam esquecendo ou distorcendo o que viram.  Desver  seria algo parecido, mas feito conscientemente e, com o hábito, torna-se automático. Não faça  brecha , senão A  Brecha  vai te pegar! Na hipótese de uma pessoa ver algo ou alguém que não deveria (lembrando que a proibição vai além de pessoas, chegando a locais, coisas e animais pertencentes à outra cidade) e, deliberadamente, não  desver . O quê acontece? Quando vamos viajar para um país, em grande parte dos casos, precisamos de um visto. Se alguém entrar em outro país ilegalmente, sem visto, será detido pela Agência de Imigração e deportado para seu país de origem, além de receber outras sanções, como não poder retornar durante um período ou definitivamente. Em  A cidade & a cidade , quando ocorre tal transgressão (chamada de  brecha ), quem assume o caso não é a polícia de  Besźel  ou de  Ul Qoma , mas sim um terceiro ente, chamado  Brecha. Repare que há uma certa redundância, para não haver confusão:  brecha  (com  b  minúsculo) é a transgressão e  Brecha  (com  B  maiúsculo) é a organização, que não está vinculada a nenhuma das cidades e que atua apenas nestes casos. Ainda que, por exemplo, as cidades compartilhem ruas, cada qual deve usar sua faixa específica, assim como os pedestres devem andar na porção de calçada pertencente à sua cidade. Imagine dois grandes azulejos, um preto e outro branco. O primeiro representa  Besźel , o segundo  Ul Qoma.  O cidadão b esź  deve sempre manter seus pés apenas nos azulejos pretos (como peças de xadrez movimentando-se no tabuleiro), da mesma forma, os  ulqomanos  apenas nos brancos (diferente do que ocorre com as peças do adversário no xadrez). Agora imagine que um cidadão de qualquer uma das cidades faça o seguinte movimento: coloque um pé sobre um azulejo preto e o outro sobre um azulejo branco! Isso é brecha! Assim como ver cidadãos de outras cidades, sem  desver  em seguida. O que a  Brecha  faz com tais transgressores é um mistério, o fato é que todos a temem, muito mais do que a polícia comum. Ao longo do desenrolar da trama, o autor se aproveita destes conceitos, usando-os na estrutura das partes que compõem os capítulos do livro. Algo bem prazeroso, que nos permite conhecer as duas cidades, suas diferenças tecnológicas e culturais. Para citar alguns exemplos: as viaturas da  militsya  (polícia de  Ul Qoma ) que possuem luzes que piscam com um “liga-desliga” real, enquanto às viaturas de  Besźel  utilizam o antiquado  giroflex . Na parte cultural, além das vestimentas, existe até mesmo um “vernáculo físico” (modo de andar) próprio de cada cidade! Este último detalhe, me remete ao filme  O preço do amanhã , assim como Jack Nicholson em  Melhor é Impossível . Aliás, fico imaginando como seria interessante uma adaptação deste livro para o cinema (virou minissérie ), modificando alguns pontos. Trocando, por exemplo, estas fronteiras psicológicas por algo como dimensões. O que aconteceria, por exemplo, se alguém ficasse não com os pés nos “azulejos”, iguais ou diferentes, mas equilibrando-se num “rejunte”. Não estaria em lugar nenhum, uma espécie de limbo! Em meio a essa especulação, me lembro do filme  O terminal , com Tom Hanks. A mente é como um paraquedas: só funciona se estiver aberta Nos dias de hoje, com muitas pessoas superficialmente politizadas de um lado e extremamente polarizadas de outro, não me surpreende o fato de ver muitos demonstrando genuíno interesse pela obra de Miéville, mas descartá-la e execrá-la em seguida, ao passo que descobrem o posicionamento político do autor. Simplesmente lamento esse tipo de atitude e digo que se eu também seguisse essa postura, jamais teria lido  A Revolta de Atlas , de Ayn Rand, um dos melhores livros que li na vida. Dentro do livro  A cidade & a cidade , não percebi nenhum posicionamento político de forma escancarada. Está mais para um recorte da Europa nos últimos anos, com a crise dos refugiados, radicais separatistas (no livro também temos os radicais unificacionistas, os  unifs ) e, talvez, a paranoia da vigilância, muito presente já há um bom tempo na Inglaterra. Ficção refletindo a realidade Para quem busca algo diferente na forma, a obra traz algo bem original, que nos faz pensar nos enclaves existentes em algumas regiões do mundo; sobretudo nos faz lembrar da realidade presente em Israel e Palestina, com assentamentos desses cercando os daqueles e vice-versa. Também traz a questão da união  versus  separação, como no caso do  Brexit.  E os muros sendo levantados em diversas fronteiras, mostrando um movimento na contramão da tendência de globalização, livre circulação não só de comércio, mas também de pessoas. TCC…? Normas da ABNT…? :-) :-( Para os acadêmicos e/ou apreciadores de estudo linguístico, este livro traz um belo agrado. Ainda que muito possa ter sido minimizado ou perdido, é interessante ver algumas gírias, neologismos criados por Miéville, que deixa a entender que suas cidades fictícias estão situadas no leste europeu. Quem já cursou ou está cursando alguma graduação, pós, doutorado etc. irá perceber o alto nível de detalhe envolvendo notas de rodapé, referências bibliográficas, siglas como c f .,  et.   al. , entre outras. Vale lembrar que tais informações são importantes para a investigação de Borlú e nos mostram o quão interessante pode ser este “diálogo” entre autor e leitor, por meio do texto impresso de um e dos grifos, anotações e  post-its  do outro. Personagens É preciso dizer que os personagens não são muito desenvolvidos. Ao menos os de carne e osso. Explico: ao meu ver, os personagens principais são as cidades. Você não verá descrições muito detalhadas dos personagens humanos, mas posso adiantar que Dhatt, com seu estilo impaciente e desbocado é um dos meus favoritos: Borlú:  eu gostaria de caminhar; preciso dar uma volta. Está uma noite linda. Dhatt:  Como assim, caralho? Está chovendo. Os diálogos entre Borlú e Corwi, também costumam ser bem espirituosos: Borlú: Ela provavelmente usava proxies e um cleaner-upper online também, porque não havia nada de interesse no cache dela. Corwi: Você não faz ideia do que está falando, faz, chefe? Borlú: Absolutamente nenhuma. Mandei os técnicos escreverem tudo foneticamente para mim  […] Corwi:  Então você não entendeu nada dela? Borlú:  Infelizmente não, a força não estava comigo Pontos negativos Três pontos me incomodaram de maneira significativa durante a leitura, mas não necessariamente são defeitos. 1º) Diálogos truncados. Sabe quando uma pessoa está relatando algo de nosso interesse, mas fica muito reticente, se confunde, para, depois retoma o relato etc.? Pois bem, isso me deixou bem impaciente em alguns momentos, ainda que fossem características dos personagens, não sei se o autor se aproveitou disso para “enrolar” um pouco. A impressão é aquela de alguém impaciente falando com um gago (nada contra os gagos). 2º) “Barriga”. Em determinado trecho, notei que o autor adotou uma estrutura de capítulos com grandes picos no final, mas com seu desenvolvimento bem lento e um tanto enfadonho, lembrando uma técnica que costuma ser muito utilizada em novelas brasileiras e alguns seriados. Felizmente, passado esse trecho, os capítulos seguintes ficam bem mais interessantes. 3º)  Show don’t tell . Não vou dar spoilers sobre a trama. Mas próximo do final, não gostei da forma como parte importante da trama é revelada. Soou como algo parecido com  Scooby-Doo  ao invés do  show don’t tell  ( mostre, não fale ). Pesquisando, vi que o uso ou não desta técnica divide opiniões e que muitas vezes, é preciso ponderar o dinamismo da narrativa. Não sei dizer se ficaria melhor se ela fosse mais utilizada, mas fica aqui o ponto mais fraco do livro em minha opinião. De qualquer forma,  A cidade & a cidade , de China Miéville vale a pena não só ser lido mas, se possível, relido (calibre suas expectativas!). Sobretudo pela riqueza de detalhes que podem ser melhor entendidos e explorados numa segunda leitura. Conheci o livro por acaso, lendo artigos publicados por Antonio Luiz (o melhor resenhista de ficção científica do Skoob), desde então fiquei empolgado e agora, finalmente, consegui meu intento. Espero que a editora  Boitempo  siga publicando mais obras do autor, se possível, com um preço mais acessível. Ficha Técnica Título: A cidade e a cidade Título original: The city and the city Autor: China Miéville Tradução: Fábio Fernandes Edição: 1ª Editora: Boitempo Ano: 2014 ISBN: 978–85–7559–419–3 (recurso eletrônico) Site de Tuca Oliveira (autor da foto da favela de Paraisópolis)
Livros NewWeird SciFi lidos
Estação Perdido Goodreads
author: China Miéville / José Baltazar Pereira Júnior Boitempo 2016 - 1
Na turbulenta metrópole de Nova Crobuzon, à sombra de um Parlamento corrupto e de sua brutal milícia, o excêntrico cientista Isaac Dan der Grimnebulin divide seu tempo entre uma pesquisa acadêmica pouco ortodoxa sobre "energia de crise" e a paixão interespécies por Lin, artista boêmia com quem se relaciona em segredo. A paz do casal acaba quando ambos recebem ofertas de trabalham que podem (e vão) mudar para sempre sua vida e a de toda a cidade. Ao tentar ajudar um garuda, do deserto, criatura misteriosa, metade homem e metade pássaro, Isaac se lança em experimentos que logo fugirão ao controle, levando-o a pedir auxílio a personagens tão diversos como uma crítica de arte que nas horas vagas trabalha em um jornal clandestino de oposição ao governo, uma aranha gigantesca capaz de atravessar a fina teia que separa as dimensões ocultas e um agente do submundo do crime. Desse entretecimento de realidades e expectativas, brota uma assustadora intuição: a de que a verdadeira distopia talvez seja o próprio mundo em que vivemos.

Livro vencedor dos prêmios Arthur C. Clarke , August Derleth (British Fantasy Society) , Ignotus e Kurd Lasswitz .