QuartaCapa
O Ser e o Nada Goodreads
L'être et le néant
author: Jean-Paul Sartre Editora Vozes 2009
Publicado em 1943, "O Ser e o Nada" dá continuidade a uma reflexão que já se iniciara no princípio do século com pensadores como Kierkegaard, Jaspers e Heidegger, exercendo uma incontornável influência sobre as cinco últimas décadas. Sartre desenvolveu um prodigioso e completo sistema de "explicação total do mundo" através de um exame detalhado da realidade humana como ela se manifesta, estudando o abstrato concretamente. Ao ser publicado, "O Ser e o Nada" causou espanto, polêmica, protestos, admiração. Com sua originalidade transgressora e contestações às verdades eternas da tradição filosófica, constitui o apogeu da primeira fase da filosofia sartriana.
Feb. 6, 2025 read
Meio que uma trapaça estar indicando esse livro na #QuartaCapa, porque não o li inteiro. Mas ele tem uma divisão boa, que facilita essa apropriação, com uma separação por temas bem feita. E mesmo sendo um calhamaço, e sendo um pouco difícil com o tanto de "ser em si" e "ser para si" no texto, ele tem uma abordagem muito mais concreta que a maioria dos filósofos.
E absolutamente fascinante começar a pensar o mundo nos termos existencialistas.
Acadêmicos Filosofia QuartaCapa
Afromarxismo Goodreads
author: Luiz Mauricio Azevedo Sulina 2022 - 11
Em "Afromarxismo: fragmentos de uma teoria literária prática", Luiz oferece uma reflexão materialmente dialética sobre o estado de coisas no mundo. Com doses de ironia, à la Marx, Luiz reacende no leitor a ideia do "revide" negro. Aborda o problema da identidade como algo político e urgente, e que necessita ser lido através da lógica da reprodução social capitalista. Uma leitura de tirar o fôlego, que provoca, mas que estabelece diálogo permanente mesmo com quem, talvez, ache radicais as ideias apresentadas.

O autor rechaça o pensamento intelectual preso à redoma de uma história universal eurocêntrica que nos relega, em especial negros e negras, ao lugar de complemento.

O livro é necessário diante de armadilhas como a venda de um "capitalismo humanizado" supostamente antirracista; na análise, Luiz nos previne de tal superficialidade. É sobre morte e a morte do pensar livre versus a inquietude viva de Luiz. Ele troca com louvor a lâmpada do marxismo dominado pela branquitude e toma a ferramenta com o objetivo de mudança social. Em 2022, fragmentos de uma teoria literária prática é um enfrentamento ao mofo da intelectualidade das redes sociais e uma arma para a morte do fascismo.

"Ele escreve sobre o texto contemporâneo, ponderando conclusões para aquele que acredita tê-las e incendiando desejos naqueles que podem não tê-los."
— Luciany Aparecida, Revista Brasileira de Literatura Comparada

"O escritor, editor e pesquisador da USP Luiz Mauricio Azevedo busca tornar visível o que foi invisibilizado."
— Úrsula Passos, Folha de S. Paulo

"Para Luiz Mauricio Azevedo, a construção de uma crítica literária voltada à produção de negros e negras é algo que se faz com sangue nos olhos."
— Igor Natusch, Jornal do Comércio

"Ele, Azevedo, escreve para os críticos e para a universidade; dialoga com os pares, impõe-se pelo rigor técnico, pela honestidade intelectual, pelo desprezo aos conchavos, pelo entusiasmo do pensamento crítico, em fim de contas."
— Cidinha da Silva, Geledés

"Azevedo localiza a crítica literária como uma área em crise, embora ele demonstre com clareza e objetividade a possibilidade da superação desse impasse por meio do corajoso exercício da crítica da crítica."
— Roberta Flores Pedroso, Zero Hora

"Enquanto prática discursiva que confronta o status quo, a escrita de Luiz Mauricio Azevedo visa fraturar o habitual, o ordinário, no sentido mesmo daquilo se repete, que se faz presença fixa no pensamento instituído como norma."
— Giovana S. Pinheiro, Literafro

"Luiz Mauricio tem a sabedoria de não entrar numa disputa conceitual em todos os textos focam em objetos específicos."
— Luís Augusto Fischer, GZH
Feb. 6, 2025 read
Luiz Maurício é um cara que devia ser MUITO, mas MUITO mais conhecido. Não só como escritor, crítico literário, ativista, mas também como acadêmico capaz de elaborar as nossas angústias muito bem, então aproveito para indicar nessa #QuartaCapa.
E o que Afromarxismo faz. As dinâmicas assimilacionistas do mercado sobre o movimento político, a incapacidade do marxismo acadêmico de apresentar soluções para pessoas que dependem de soluções para estar vivas semana que vem, que vão ser cooptadas pelas ideologias assimilacionistas do mercado, porque elas ao menos oferecem um meio de estar vivo semana que vem.
Pedrada muito boa.
Acadêmicos QuartaCapa
O mito da felicidade Goodreads
The Happiness Myth: Why What We Think Is Right Is Wrong
author: Jennifer Michael Hecht Larousse 2009
"Surpreendentemente, o livro nos dá alegria e conforto pelo próprio ato de examinar nossos anseios e certamente fará os leitores reverem suas crenças sobre o que constitui a felicidade"
— Library Journal

"O mito da felicidade" é uma bela história e uma meditação sobre o melhor que nós humanos pensamos e temos dito sobre esse tema volátil: a felicidade.
Feb. 6, 2025 read
E quase trapaça indicar O Mito da Felicidade na #QuartaCapa de livros acadêmicos, porque apesar de ser um livro de história, escrito por uma historiadora, com pesquisa séria e debates historiográficos interessantes, ele se apresenta como um livro de "filosofia do bem-viver", ou seja, uma auto-ajuda chique.
O objetivo é fazer um apanhado sobre como diferentes contextos lidam com temas centrais para a nossa vida cotidiana, para que a experiência de alteridade de conhecer essas outras abordagens nos permita olhar para a nossa própria abordagem com olhos novos, menos viciados pela rotina, menos naturalizados. Provavelmente esse livro é a melhor resposta para a pergunta "para que serve a História?" que eu vou encontrar na vida.
(Os temas que ela considera centrais para a felicidade são sabedoria, drogas, dinheiro, corpo e celebração)
Acadêmicos QuartaCapa
O Espírito das Luzes Goodreads
L'Esprit des Lumières
author: Tzvetan Todorov Barcarolla 2008
Depois do desmoronamento das utopias, sobre qual base intelectual e moral queremos construir nossa vida comum? indaga Tzvetan Todorov na introdução de "O espírito das Luzes". Na busca de uma resposta a tal pergunta o pensador se depara com a vertente humanista das Luzes, que teve por conseqüência o que se conquistou, principalmente na filosofia, como Iluminismo. As Luzes, que tem como origem de seu próprio nome a constatação do fenômeno corriqueiro no qual se ilumina aquilo que se encontrava em trevas, propunham uma postura diante do mundo e de tudo aquilo que envolve a vida humana. Postura da qual todos nós somos herdeiros. Pois foi neste período e nesta corrente coletiva de pensamento, pensadores e atitudes que pela primeira vez na história os seres humanos decidiram tomar nas mãos seu destino e colocar o bem-estar da humanidade como objetivo principal de seus atos. As Luzes emanaram de toda a Europa e não apenas de um país, exprimindo-se por meio da filosofia e da política, das ciências e das artes.

Num livro que dialoga tanto com os que se interessam por filosofia, quanto com aqueles que se interessam por assuntos contemporâneos, Todorov parece indicar um caminho de reflexão a partir dos movimentos filosóficos que os coloca frente a frente com o mundo comum e os acontecimentos importantes de nossa sociedade. O público ao qual se destina o ensaio vai do jovem estudante colegial ao acadêmico, pois com uma escrita despojada de academicismos, o autor nos transporta para um núcleo de questões humanas cuja abrangência compreende e transcende o contexto histórico em que surgiu. Seu texto, como a vertente de pensamento que o inspirou, realiza de forma ao mesmo tempo simples e densa, seus propósitos, sem perder o rigor analítico que caracteriza os grandes pensadores.

Não estamos diante de um ensaio de história da filosofia, mas sim de um livro que busca ferramentas em um passado luminoso para lançar luzes sobre o que há de obscurantismo na vida moderna. Entender a letra e o espírito das Luzes parece ser um caminho claro de emancipação para toda a humanidade. Não se trata de um estudo que considere os textos do passado letra morta, seu espírito ainda vive! Temos, portanto, segundo o pensador búlgaro, de reacender as luzes hoje!
Feb. 6, 2025 read
Ensaio curtinho do Todorov, que consegue reelaborar de um modo interessante a contradição entre o iluminismo ser ao mesmo tempo o pilar central de nossa cultura e sociedade e um risco absurdo, como as críticas de Adorno mostram. Todorov chega na solução poética de que é preciso buscar o espírito das luzes, mas não a luz em si. O iluminismo enquanto norma ou sistema para organizar a sociedade cai nos excessos da racionalização insensível, mas enquanto conjunto de valores cujo espírito norteia normas e sistemas, pode nos levar ao mundo que sonhamos.
#QuartaCapa
Acadêmicos QuartaCapa
A Condição Humana Goodreads
The Human Condition
author: Hannah Arendt translator: Roberto Raposo Relógio D'Água 2001 - 6
"A Condição Humana", livro central do pensamento de Hannah Arendt, afirma-se, nos primeiros capítulos, como uma crítica da modernidade, a partir da reflexão sobre "o que andamos a fazer", e da discussão sistemática "do labor, do trabalho e da acção", actividades que constituem traços essenciais da perenidade da condição humana. Arendt aponta para a recuperação de um mundo comum, a ágora, como espaço público do debate e do confronto entre iguais, pela reabilitação da política, a única resistência possível contra a alienação do mundo moderno, e, por inerência, do discurso, "pois é o discurso que faz do homem um ser político".
Feb. 6, 2025 read
Como explicar odiarmos nosso trabalho, mas dedicarmos uma quantidade enorme de energia a criar software livre, escrever, fazer amigurumi e outras tantas atividades? Como conciliar a ideia de alienação do trabalho do Marx com a nossa observação da realidade social?
Logo no início desse livro, Arendt traz algumas chaves para isso, na divisão da atividade humana em labor, trabalho e ação. Essa é outra elaboração que faz você ver o mundo de outra forma, e transforma profundamente sua atitude. (e faz querer bater em todo mundo que insiste em negar que o trabalho é uma tortura nas discussões políticas).
#QuartaCapa
Acadêmicos Marxismo QuartaCapa
Work on Myth Goodreads
author: Hans Blumenberg MIT Press 1988 - 3
In this rich examination of how we inherit and transform myths, Hans Blumenberg continues his study of the philosophical roots of the modern world. Work on Myth is in five parts. The first two analyze the characteristics of myth and the stages in the West's work on myth, including long discussions of such authors as Freud, Joyce, Cassirer, and Valéry. The latter three parts present a comprehensive account of the history of the Prometheus myth, from Hesiod and Aeschylus to Gide and Kafka. This section includes a detailed analysis of Goethe's lifelong confrontation with the Prometheus myth, which is a unique synthesis of "psychobiography" and history of ideas. Work on Myth is included in the series Studies in Contemporary German Social Thought, edited by Thomas McCarthy.
Feb. 6, 2025 read
Blumenberg é foda. Mais do que você imagina. E um tanto quanto desconhecido também.
O centro desse livro é a ideia de que o mito não é uma historinha de povos primitivos para explicar as coisas porque eles não tinham ciência, mas uma forma de conhecimento, que tem sua própria epistemologia, que se funda em uma espécie de pensamento automático. O mito não responde perguntas, ele impede a sua formulação. Ele forma verdades autoevidentes, seguranças que nos tiram a necessidade de questionar a realidade.
E um calhamaço que muda o seu modo de estar no mundo e entender a cultura humana, porque você começa a ver esse mito do Blumenberg em todos os lugares, inclusive na ciência. Algum dia eu preciso mesmo escrever sobre implicações políticas disso.
#QuartaCapa
Acadêmicos Mito QuartaCapa
Crime e Castigo Goodreads
Преступление и наказание
author: Fiódor Dostoiévski translator: Paulo Bezerra Editora 34 2001 - 6
Publicado em 1866, Crime e castigo é a obra mais célebre de Fiódor Dostoiévski. Neste livro, Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petersburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria: grandes homens, como César ou Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História. Este ato desencadeia uma narrativa labiríntica que arrasta o leitor por becos, tabernas e pequenos cômodos, povoados de personagens que lutam para preservar sua dignidade contra as várias formas da tirania. Esta é a primeira tradução direta da obra lançada no Brasil, e recebeu em 2002 o Prêmio Paulo Rónai de Tradução da Fundação Biblioteca Nacional.
Jan. 30, 2025 read
Raskolnikov está doente. Sua doença é física, mas também mental. Sua doença o acompanha a cada página angustiante desse livro. Crime e Castigo é sobre uma doença social que se manifesta de modos diferentes em vários personagens, inclusive alguns que parecem saudáveis. Dostoiévski, claro, defende que a cura para essa doença é espiritual. Está na igreja ortodoxa e na vida simples dos que tem fé.
A história viria a mostrar que a escolha da Rússia seria pela revolução, renegando a proposta do autor.
O livro é genial, mesmo não sendo contemplado pelo final, merece cinco estrelas e ser recomendado nesta #QuartaCapa
Doença QuartaCapa Rússia
A Peste Goodreads
author: Albert Camus / Ersílio Cardoso Livros do Brasil 2020 - 7
Na manhã de um dia 16 de abril dos anos de 1940, o doutor Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto. Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que em breve toma conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, esta torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas.

Uma história arrebatadora sobre o horror, a sobrevivência e a resiliência do ser humano, A Peste é uma parábola de ressonância intemporal, um romance magistralmente construído, que, publicado originalmente em 1947, consagrou em definitivo Albert Camus como um dos autores fundamentais da literatura moderna.
Jan. 30, 2025 read
Esse livro fez a pandemia de COVID ser um enorme déjà-vu, principalmente o modo como encarar a gravidade da situação era mais difícil que fingir que estava tudo bem e continuar tudo como estava, então, que livro melhor para inicar a #QuartaCapa que A Peste?

A prefeitura, por intermédio de Richard, pediu a Rieux um relatório destinado à capital da colônia, para solicitar ordens. Rieux fez uma descrição clínica e colocou números. No mesmo dia, contaram-se cerca de quarenta mortos. O prefeito assumiu a responsabilidade, como ele dizia, de intensificar a partir do dia seguinte as medidas prescritas. A notificação compulsória e o isolamento foram mantidos. As casas dos doentes deviam ser fechadas e desinfetadas, os que os rodeavam, submetidos a uma quarentena de segurança, os enterros, organizados pela cidade nas condições que veremos a seguir. Um dia depois, o soro chegava por avião. Era suficiente para os casos em tratamento. Era insuficiente se a epidemia viesse a se alastrar. Responderam ao telegrama de Rieux que o estoque de reserva estava esgotado e que estava sendo iniciada nova produção.
Durante esse tempo, de todos os subúrbios, a primavera chegava aos mercados. Milhares de rosas murchavam nas cestas dos vendedores, ao longo das calçadas, e seu perfume adocicado flutuava por toda a cidade. Aparentemente, nada mudara. Os bondes continuavam sempre cheios nas horas de afluência, vazios e sujos o resto do dia. Tarrou observava o velhinho, e este escarrava nos gatos. Grand se recolhia em casa todas as noites para seu misterioso trabalho. Cottard vagueava sem destino e o Sr. Othon, o juiz de instrução, continuava a passear com seus animais. O velho asmático despejava os grãos-de-bico de um recipiente para o outro, e, por vezes, encontrava-se o jornalista Rambert com um ar tranquilo e interessado. À noite, a mesma multidão enchia as ruas e as filas estendiam-se diante dos cinemas. Aliás, a epidemia pareceu recuar, e durante alguns dias contou-se apenas uma dezena de mortos. Depois, de repente, subiu de modo vertiginoso. No dia em que o número dos mortos atingiu de novo trinta, Bernard Rieux olhava o telegrama oficial que o prefeito lhe estendera, exclamando: “Estão com medo!” O telegrama dizia: “Declarem estado de peste. Fechem a cidade”.
Camus Doença Existencialismo QuartaCapa
Inventário do ir-remediável Goodreads
author: Caio Fernando Abreu Sulina 1995 - 1
Os emblemáticos, revolucionários e referenciais anos 60 não podem deixar de influenciam a obra de quem os estava vivenciando a plenos pulmões, alma e coração. Quando se tem talento e sensibilidade literária para fazer este registro, estão dadas as condições para uma obra. Passados 25 anos, o autor fez uma rigorosa releitura e reescrita de vários contos. O título também foi ligeiramente alterado de Irremediável para Ir-remediável, num jogo de palavras de superação e transcendências.
Dec. 5, 2024 read
Li esse livro na oitava série. Reli anos depois. Foi uma bomba para o jovem que estava acostumado com uma escrita sem muitos recursos estéticos. Os fluxos de pensamento de páginas sem pontuação, as histórias absurdas, como o trágico caso de amor de um bebê e um gato, os fetiches sociais em torno das côdeas de pão. São contos que desafiam o leitor em vários sentidos, todos eles bons, apesar de muitos deles ruins. Mais que recomendado. E, por favor, continuem colocando o livro na seção infanto-juvenil e desencaminhando a juventude.
#QuartaCapa
Contos QuartaCapa
Morangos mofados Goodreads
author: Caio Fernando Abreu Agir 2005 - 4
Os anseios dos anos 1970 e a falta de perspectiva de concretizá-los são uma realidade que se mostra atual. O sonho pode ter acabado, mas não morreu. E Caio Fernando Abreu mostra isso com perícia, desvendando o ser humano nos seus momentos mais íntimos, buscando a verdade e o conhecimento de si mesmo e do outro ora como poesia, ora com crueza, mas sempre com a sutileza e a ironia de um mestre.

O medo e a insegurança dominam os nove contos que compõem a primeira parte do livro, "O mofo", na qual está representada a vida sob a ditadura militar e a restrição de liberdade. A dor permeia toda essa parte, perpassando os oito contos da seguinte, "Os morangos". Na última, composta de um único conto, que dá nome ao livro, Caio sinaliza uma esperança: os morangos estão mofados, mas ainda assim guardam o frescor em sua essência.

Numa carta a um amigo, que poderá ser lida no final deste volume, Caio conta o processo de criação de "Morangos mofados", a analogia com a música "Strawberry Fields Forever", o mergulho sofrido e necessário no mundo interior para dele extrair a literatura, além de sua admiração por Clarice Lispector e Dalton Trevisan. Então, esclarece por que o último conto tem um cunho positivo: o personagem se rebelou, libertando-se do autor e decidindo o final à revelia dele.
Dec. 5, 2024 read
Aproveitar o tema da #QuataCapa e registrar aqui na Berinjela o Morangos Mofados, que já tinha recomendado antes.
Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu é a obra deslocada&desbocada que parece ser só mais uma dessas coletâneas de contos sobre a vida de uma classe média contracultural em seus pequenos dramas urbanos. É isso que as resenhas me prometeram. Mas o livro afunda no desespero da condição humana de uma forma tão absurda, que mesmo quando o mofo acaba e você começa a ver os morangos, esses ainda parecem estragados. É só ao final, que a angústia e o trauma da catarse se libertam em uns poucos parágrafos de uma esperança tão minúscula, mas tão importante, diante da universalidade do mofo.
Contos QuartaCapa
Octaedro Goodreads
author: Julio Cortázar BestBolso 2011
Octaedro revela o escritor argentino Julio Cortázar, mestre do conto curto e da prosa poética, no auge de sua criatividade. Os oito contos que compõem esta coletânea são como as oito faces de um poliedro, ligadas por uma unidade de linguagem, mas com um relato único em cada história. Ao trabalhar com um mínimo de elementos formais, Cortázar parte de um núcleo central para levar-nos a situações incomuns, dentro de microcosmos humanos, universos isolados e rodeados por forças ameaçadoras e misteriosas. Em cada conto, o real passa a ser interpretado como inseparável do imaginário, fazendo supor a existência de outra ordem que desconhecemos. Liliana chorando, Os passos no rastro, Manuscrito achado num bolso, Verão, Aí, mas onde, como, Lugar chamado Kindberg, As fases de Severo e Pescoço de gatinho preto – todas as narrativas são surpreendentes.

"Octaedro é uma espécie de fecho da época de ouro da vida de Cortázar — e também uma síntese das tendências, variadas, opostas, muitas vezes até conflitantes, que nele estiveram em jogo."
— O Estado de S. Paulo
Dec. 5, 2024 read
Aproveitar o tema da #QuataCapa e registrar aqui na Berinjela o Octaedro, que já tinha recomendado antes.
É um livrinho minúsculo, de bolso mesmo, com contos que tem uma densidade ímpar. Manuscrito Achado num Bolso, em especial, é uma viagem pelo metrô da obsessão que te agarra pelo colarinho e só te larga depois de te forçar a sentir algo. Tive de reler depois de conhecer o labirinto que é o metrô de Paris.
Contos QuartaCapa
Risíveis amores Google Books
author: Milan Kundera Companhia de Bolso 2023 - 03
Publicado pela primeira vez no Brasil em 2001, este livro de contos de Milan Kundera mostra como o autoengano governa quase todos os aspectos da vida.

Um homem diz que crê em Deus para conquistar uma garota e acaba descobrindo as virtudes da devoção a um deus que ele sabe inexistente. Namorados fingem que não se conhecem, e aos poucos percebem como são, de fato, dois estranhos. Um mentiroso hábil brinca com as pessoas, mas elas são tão crédulas que ele perde o controle da situação.
Nos sete contos de Risíveis amores, publicados pela primeira vez no Brasil em 2001, Milan Kundera retira do amor e do sexo a seriedade que costuma recobri-los. As situações se desenvolvem a partir de um mal-entendido, de um jogo com o outro. A mentira - ou a a arte de iludir e ser iludido - está sempre em foco. Mas o engano, que se inicia pela brincadeira, revela como o autoengano governa todos os aspectos da vida.
Não são apenas histórias de amor que fazem rir. São, também, histórias sobre tentativas de repor alguma verdade à experiência amorosa.
Dec. 5, 2024 read
Não consigo deixar de recomendar Kundera, porque pouca gente consegue captar a tragédia da condição humana como ele. Risíveis Amores mostra nosso ridículo, absurdo, com uma habilidade ímpar, através de relacionamentos carregados de ridículo, fracasso, eutoengano e algo humano, demasiado humano.
#QuartaCapa
Contos QuartaCapa
Melancholia メランコリア 上 Goodreads
author: Seiman Douman / 道満晴明 Shueisha 2018 - 3
ショートストーリーの名手・道満晴明が描くメランコリックオムニバス!
世界の終わりが近づく中、人は何を思うのか!? 楽しいだけじゃ、穏やかなだけじゃ、幸せなだけじゃ、人生はつまらない。「憂鬱」それは甘くて苦い蜜の味──…。読むほどに絡み合っていく、巧妙なストーリーギミックとじわじわと心を侵すメランコリックな物語!!
Dec. 5, 2024 read
Do mesmo autor de Voynich Hotel, Melancholia é uma coletânea de contos/mangás curtos levemente correlacionados, com uma mistura estranha de violência, fofice, sexo e depressão.
Você encontra traduzido nos melhores sites piratas, mas se quiser comprar, vai ter que ser em japonês.
#QuartaCapa
Mangá QuartaCapa
Nunca subestime uma mulherzinha Goodreads
author: Fernanda Takai Panda Books 2007
Quando a banda Pato Fu surgiu, em 1992, foi um choque. O público não estava mais acostumado com tanta imaginação, tanto experimentalismo, características das mais fortes na produção nacional dos anos 60 e 70. O Brasil havia esquecido esse seu potencial. Mas o grupo apareceu e, em pouco tempo, conquistou a simpatia do público com suas letras bem humoradas e ritmos "malucos". Uma coisa em especial chamou atenção logo de cara: a mulherzinha, com pouco mais de um metro e meio, de voz suave, que se escondia atrás de uma guitarra. Era Fernanda Takai.

A amapaense de nascimento, e mineira de criação, produziu em 15 anos de carreira nove discos, três DVDs e uma filha. Mas ainda não se cansou de impressionar. A novidade agora não é com a música, e sim com a literatura. Fernanda Takai acaba de lançar pela Panda Books seu primeiro livro.

"Nunca subestime uma mulherzinha" é uma reunião de contos e crônicas publicados pela autora nos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas, com prefácio escrito por Zélia Duncan. Nesta publicação o leitor poderá comprovar o talento literário e a irreverência de Fernanda Takai em textos confessionais e bem humorados. Com uma simplicidade sublime, a autora descreve momentos de sua vida e cria outros que poderiam caber na vida de qualquer um.

"Nunca subestime uma mulherzinha" surpreenderá até os homenzarrões mais céticos.
Dec. 5, 2024 read
O motivo para todo mundo ler esse livro é o fato da autora ser vocalista do Pato Fu, mas isso não importa, porque o livro é bom, muito bom. A partir de um ponto de vista muito individual, as crônicas falam do dia a dia, do encantamento, mas esse dia a dia é atravessado por questões sociais maiores que a individualidade, o encantamento colabora na construção dum mundo mais bonito.
É um desses livros que ajuda a gente a recuperar a fé na vida, então mais que recomendado nessa #QuartaCapa
Crônica QuartaCapa
Os arquétipos e o inconsciente coletivo Goodreads
Die Archetypen und das kollektive Unbewußte
author: Carl Gustav Jung translator: Maria Luiza Appy Vozes 2011 - 6
Uma das teorias mais conhecidas de C. G. Jung é a idéia dos arquétipos e de seu correlato, o conceito de inconsciente coletivo. Para Jung, o inconsciente coletivo é um segundo sistema psíquico da pessoa. Diferentemente da natureza pessoal de nossa consciência, ele tem um caráter coletivo e não pessoal. Jung o chama também de "substrato psíquico comum de natureza suprapessoal", que não é adquirido, mas herdado. Consiste de forma pre-existentes, arquétipos, que só se tornam conscientes secundariamente.

Este volume contém trabalhos dos anos 1933-1955. Os três primeiros capítulos são fundamentações teóricas. Seguem capítulos descrevendo arquétipos específicos, um estudo sobre a relação dos arquétipos com o processo de individuação, bem como trabalhos com material tirado da prática psicoterapêutica do autor.
Jan. 9, 2025 read
Nessa #QuartaCapa sobre livros que fazem a gente mudar a opinião sobre nosso gênero, esse livro que li na adolescência é inescapável.
A base do pensamento junguinano é que todos nós temos todas as coisas do mundo dentro da nossa cabeça desde o nascimento, mas desenvolvemos só algumas delas à medida que vamos crescendo, e que a maior parte dos problemas mentais vem desse desequilíbrio, desse desenvolvimento incompleto e parcial. E o gênero está incluído nisso. A maioria dos homens adoece por não desenvolver seu lado feminino, ou *anima*, enquanto as mulheres adoecem por não desenvolver seu lado masculino, ou *animus*.
Vendo o texto hoje para recomendar, fica claro que Jung tem um pensamento bastante binária, e encara as características de gênero (emoção feminina e racionalidade masculina) como naturais e não arbitrárias. Apesar disso, é um livro que me fez entender que os papéis de gênero muito estreitos são patológicos, porque se baseiam na supressão e atrofia de características que são importantes para sermos completos e saudáveis. E que uma sociedade e educação saudáveis deveria avançar para a abolição dos papéis de gênero (papéis, não expressão).

(É meio ridículo que a maior parte dos junguianos popstar de hoje em dia falem mais em se identificar com os arquétipos dominantes (o próprio gênero de identificação) que em integrar os arquétipos pouco desenvolvidos, (o gênero oposto) o que é o exato oposto do que Jung recomenda.
Jung Psicologia QuartaCapa