Perfect Days (2023)

Diego
Diego @diegopds
Perfect Days - Review

Aproveitando o ensejo, após ler as resenhas do @arlon@harpia.red e do @sol2070@mastodon.social (confira aqui https://blog.ayom.media/ideiasdechirico/o-sedutor-misterio-de-dias-perfeitos e aqui https://sol2070.in/2024/09/dias-perfeitos-sociedade-japonesa/), compartilho abaixo minhas impressões sobre o filme.

O filme traz algo que, a cada dia, se torna mais impraticável; se você mora no Brasil, praticamente impossível, que é: separar sua vida vida profissional da pessoal. E, por mais que você se dedique ao trabalho, ter o tempo e paz suficientes para descansar e fazer suas coisas, sem ter a paranoia de que algo ou alguém irá te interromper.

De modo mais concreto: se dedicar ao trabalho com afinco, mas fazendo aquilo que cabe a você e condizente com seu cargo e seu salário (e não ser precarizado).

Em que pese o fato de o personagem ter seus próprios utensílios de trabalho e também do episódio em que leva sua sobrinha (a contragosto) para acompanhá-lo, fica claro que o ele quer ter sua vida pessoal bem separada do trabalho. Seus momentos de relaxamento e contemplação durante o expediente ocorrem somente no horário de almoço que, apesar de breve, carrega um grande elemento de sua vida pessoal (mas que ainda passará por uma curadoria posterior).

Há horário para tudo: o trabalho, o qual faz com esmero mas, terminado este, se desliga totalmente dele: tomando seu banho prolongado, que não só remove germes e bactérias, mas também providencia um estado de relaxamento necessário para sua leitura (quem nunca teve a experiência depois de tomar um banho, relaxar numa leitura diante daquele vento fraco de um ventilador ou brisa vinda da janela? Ou qualquer outro "ritual", como aquele de Duro de Matar I, de contrair os dedinhos sobre um carpete de um quarto de hotel, logo após uma longa viagem de avião?).

Temos também o papel do minimalismo (ou melhor: essencialismo), no sentido de dedicar nosso tempo a poucas atividades edificantes, como uma boa leitura ou audição de um álbum de música ao invés de ficarmos dando scroll numa tela, acessando redes sociais.

E algo bem marcante: a importância da passagem do tempo "no tempo do próprio tempo". Basta lembrar das mudas de plantas que ele rega diariamente e vê crescer, pouco a pouco; as fotos que tira diariamente numa máquina com filme ,tendo de esperar 1 mês (talvez) para fazer a revelação e, só então, selecionar quais ficaram boas e quais serão descartadas (como a velho clichê do escritor que guarda seu texto numa gaveta por uma semana ou um mês antes de revisá-lo novamente, a fim de ter um julgamento mais frio); e claro: o que diz a sua sobrinha "Na próxima vez é na próxima vez; agora é agora". Em suma: cada coisa no seu tempo.

E, falando em tempo: percebemos o quanto este senhor "estoico" perde a compostura ao ter sua rotina alterada por algo do qual não tem culpa e muito menos é responsável. A desordem no trabalho cria uma reação em cadeia que afeta gravemente sua vida pessoal, fazendo perder um "dia perfeito" com suas atividades prazerosas.

Sei que há coisas subentendidas no filme e nem todas compreendi. O personagem tem lá sua parcela de egoísmo (se assim podemos dizer), e revela que, muitas vezes, tudo o que queremos é viver nossa vida em paz, quietos no nosso canto (dá ensejo também, para uma interpretação do dilema do porco-espinho).

Para fechar: reparei que ele não tem nem mesmo TV em casa, muito menos smartphone ou computador. Percebem a maravilha que é deitar e dormir tranquilamente, sem se preocupar com trending topics de Twitter / X, notificações de WhatsApp, notícias com click bait ou gatilhos de alarmismo que nos deixa ansiosos? !<

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