Resenha do documentário Persona: The Dark Truth Behind Personality Tests (2021)

Publicado originalmente em 21/11/2022, no Filmow
Ótimo documentário. Trata principalmente do Myers–Briggs Type Indicator (MBTI), sua criação e popularização, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
Na esfera pessoal, é uma forma de autoconhecimento, a fim de compreender melhor nossa forma de pensar, agir e como direcionamos nosso foco e energia para determinadas coisas. No caso dos introvertidos, o MBTI explica bem sobre a tal "bateria social" (desgaste causado ao ficar muito tempo interagindo em festas, por exemplo). Vale a pena deixar claro que cada tipo de personalidade não é um bloco monolítico, mas um conjunto de fatores combinados de forma complexa. A grosso modo, como os ajustes de equalização de uma mesa de som.
Já no âmbito corporativo, os testes se mostram temerários. Pelo que o documentário mostra, nos EUA é uma prática de longa data, que apenas se intensifica mais com o advento da informática e, depois, com os algoritmos e inteligência artificial. No Brasil, percebi que, nos últimos anos, os processos seletivos estão usando testes de personalidade de maneira bem desmedida. O candidato é direcionado para um site, faz um teste, depois vai para outro e assim por diante. Há uma grande perda de tempo preenchendo formulários enormes (e redundantes), respondendo perguntas apenas para traçar o tipo de personalidade (e não as habilidades pertinentes às tarefas a serem executadas no cargo).
Com isso, ignoram a realidade material do trabalho, com a inovação e aperfeiçoamento dos trabalhadores no dia a dia (diante de situações fáticas) e reiteram uma rotina que transforma pessoas em autômatos. Os que possuem um tipo de personalidade mais introvertida, são eliminados sumariamente do processo seletivo e raramente são chamados para uma entrevista. O documentário mostra o exemplo de um rapaz que se viu nesta situação e, mesmo com diploma universitário, nunca mais conseguiu um emprego.
Spoiler O final é bem trágico: ele se suicida. !< Spoiler
A situação é tão crítica que há até um grupo para treinar candidatos que possuem os perfis que costumam ser rejeitados. Sim: um treinamento para "hackear" os testes de personalidade e dar a mínima chance de que os candidatos consigam uma vaga ou ao menos uma entrevista!
Há também uma insinuação de que o teste tem raízes racistas. Aqui, em nome da honestidade intelectual, é necessário pontuar: uma pesquisadora chega a esta conclusão após descobrir que a autora do teste escreveu um livro de ficção que possui elementos de eugenia. Mas não há uma ligação direta entre o livro de ficção e a criação do teste.
Ao final, acredito que, na esfera pessoal, do autoconhecimento, o teste pode ajudar. Já no ambiente corporativo, é condenável (principalmente, se utilizado de forma determinante para contratação). Ninguém nasce pronto. Algumas pessoas aprendem rápido, outras mais lentamente. Mas todos podem se desenvolver no trabalho, dia após dia. O fato é que vivemos em um sistema Capitalista, que funciona com o conceito de exército de reserva para o trabalho, que almeja apenas um "colaborador" que possa executar a tarefa imediatamente, mesmo que depois de 3 meses ele seja desligado. Além disso, um ambiente de trabalho homogêneo tira dos trabalhadores a oportunidade de conviver com pessoas diferentes, que possuem outras formas de pensar, que podem trazer inovações e melhorias na produtividade. O resultado está aí: profissionais todos "iguais", trabalhando no "piloto automático".