"questions, questions! too many questions!"
apesar de eu me considerar uma fã do trabalho do jim henson, acabei adiando assistir "o cristal encantado". o motivo disso é uma mistura de duas coisas opostas.
eu sabia que o filme é considerado por muitos o ápice do apuro técnico e estético do jim henson e de sua Oficina de Criaturas. esse motivo me fez colocar "assistir 'o cristal encantado'" perto do fim da minha lista de coisas que ele produziu e eu planejo ver antes de morrer. como uma sobremesa, uma cereja do bolo (eu tenho dessas)
mas o outro motivo era um pouco mais banal. "o cristal encantado" apesar de toda a sua inegável beleza, é também considerado por muitos como o filme mais chato já produzido pelo jim. a versão original do filme foi considerada tão confusa e entediante pelas audiências iniciais que ele teve que produzir uma nova versão, cortando longos segmentos de diálogos em línguas artificiais alienígenas e outras cenas não tão autoexplicativas. mas mesmo a recepção da versão final do filme ficou aquém das expectativas do jim — um fracasso comercial após uma série de produções de sucesso envolvendo os seus muppets mais conhecidos.
mas depois de assistir alguns episódios de "o cristal encantado: a era da resistência" e me deslumbrar com a profundidade dos conceitos e visuais, enfim surgiu o ímpeto de ver este original de 1982. e por um lado, sim, o filme é meio arrastado (como o falar de um Místico). mas eu arriscaria dizer que esse é um efeito colateral do que se tentou fazer aqui.
no fim das contas, "o cristal encantado" não deveria ser analisado sob uma ótica comercial. é uma obra de arte no sentido mais prototípico do termo. isto é, algo a ser contemplado em detalhe. o filme requer, pra que seja propriamente apreciado, que demoremos o nosso olhar pelas paisagens vivas, pelas minúcias do figurino, e além.
além disso, é uma obra cujo significado nunca planejou ser explícito. talvez a confusão que alguns públicos sentiram tentando entender esse filme não seja (necessariamente) o ponto fraco do filme. em vez disso, pode ser que o problema esteja nessa malfadada expectativa de que as nossas interrogações sejam respondidas. pra citar um momento de "o cristal encantado: a era da resistência": tem vezes que é melhor que paremos de exigir tantas respostas, e apenas escutemos atentamente.