O tema que esse anime retrata é muito duro. Inclusive dou três estrelas não porque a execução seja ruim, mas porque não é uma obra boa de ser assistida. Você se sente mal mesmo.

O tema do anime é famílias desestruturadas e ciclos de violência sendo repetidos. Começamos conhecendo o lado da Shizuku, que vive abandono paterno e tem uma mãe ausente, além da pobreza material. Ela sofre bullying pesado de uma colega do colégio, Marina. A coisa começa em abuso psicológico e parte para agressão física. Facilmente você é levado a odiar a Marina e ter pena da Shizuku. Depois o anime vira a perspectiva e vemos que Marina tem um pai ausente, adúltero e manipulador e uma mãe depressiva, manipuladora e agressiva. No entendimento dela, a culpa é da mãe da Shizuku e então a culpa é dela. Depois somos apresentados a Azuma, que parece ter a vida mais ok de todos, mas vemos como a mãe dele também é manipuladora, perversa e projeta nele a obrigação de ser o irmão dele – o único nessa história toda que parece não ter entrado na espiral de violência – e mais, não ser o irmão dele naquilo que a mãe não queria que ele fosse.

Tudo isso com o alienígena takopi, incapaz de entender as nuances graves das relações humanas adoecidas.

A história vai caminhando e você vai mudando seu foco de antagonismo de um lado para outro. Começa em Marina, aí descobrimos que a Shizuku repete os padrões de violência que ela está acostumada, então passa para Shizuku. Eventualmente o próprio Akuma tem falas problemáticas. E ao fim se nota que todos estão numa espiral cíclica de violência: são violentos porque só sabem ser violentos.

Eu que tenho uma proximidade com várias histórias de pessoas em situação de rua reconheci muito esse padrão. Muitas vezes essas pessoas agem de formas inadequadas porque essa é a única forma de agir que elas conhecem. São as estratégias que elas sabem para sobreviver. E é muito triste. E muito difícil de mudar, mas dá para mudar.

É tocante que no fim, o Takopi reconhece que não sabe como resolver ou como mudar as coisas, mas ele decide permanecer. E essa decisão por permanecer é o que vai quebrando o ciclo de violência. E isso, pela mesma experiência que citei antes, é muito real. É o permanecer com as pessoas, mesmo quando elas agem mal, que vai abrindo para elas outras formas de agir e de pensar. É isso que vai ensinando outras estratégias, umas que não são nocivas nem para si mesmo, nem para os outros.

Esse anime é muito difícil de ser visto. Ele trata sobre assuntos muito reais e muito dolorosos. Não indicaria ver como entretenimento, porque ele não entretém. Mas é capaz de fazer pensar muito sobre relações familiares desestruturadas e mostra como isso é capaz de fazer as pessoas agirem de formas extremas.