Em 2015 Eric Hazan publicou este livro, um texto que se atĂ©m ao despontar das revoltas. Trata-se de um verdadeiro amĂĄlgama de histĂłrias reais em que se revela o olhar cirĂșrgico do autor arquivista que se atira em detalhes; sua mirada cartogrĂĄfica, que busca localizar as revoltas urbanas; e seu olhar de editor, jĂĄ que o livro Ă© um verdadeira compilação de histĂłrias insurrecionais praticamente desconhecidas, citando diversos textos editados ou reeditados pela La Fabrique, sua editora. Como Ă© comum de sua obra, Hazan evita toda grande sĂntese, preferindo as conexĂ”es tĂȘnues. O livro possui uma natureza compĂłsita, que se almeja uma forma aberta, em que prevalece a colagem.
Ă um livro de histĂłria? Sim e nĂŁo. Sim, porque abrange cerca de 220 anos de motins, levantes, insurreiçÔes e revoluçÔes, desde a tomada da Bastilha atĂ© a queda de Ben Ali e Mubarak, passando por junho de 1848, a Comuna de Paris, as RevoluçÔes Russas de 1905 e 1917, assim como as da Alemanha, China, Espanha, Cuba, do municĂpio de Xangai, da insurreição zapatista, etc. NĂŁo, porque nĂŁo encontramos neste livro as habituais descriçÔes "objetivas", nem as consideraçÔes morais que comumente os acompanham.
O objetivo de Hazan Ă© claramente polĂtico: identificar na histĂłria da revolução o que pode ser usado para superar o pessimismo prevalecente e pensar com intensidade sobre a ação por vir. Veremos que as maiores insurreiçÔes partem da ira do povo e nĂŁo do borbulhar de ideias polĂticas; que depois da vitĂłria o caos, sempre brandido como uma ameaça, nunca surge; que um equilĂbrio de poderes desfavorĂĄvel pode ser revertido um dia; que os episĂłdios mais famosos sĂŁo frequentemente construçÔes lendĂĄrias.
Este livro nos compromete a não mais ler esta "história" com os olhos dos eternamente derrotados, a não mais ver nela um repertório de catåstrofes, mas uma fonte viva de liçÔes e exemplos. A formação de forças revolucionårias requer a reapropriação de nosso passado.