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Veia bailarina [Book] Goodreads
part of Work: Veia bailarina
author: Ignácio de Loyola Brandão Global Editora 2008 - 1
O título, tão sugestivo e poético, esconde uma ameaça terrível. Certa manhã, ao acordar, Ignácio de Loyola Brandão encaminha-se para a cozinha, quando o "corredor balançou como um navio". Sem se abalar, resolve conviver com o problema. Tonturas, quem não as tem? O autodiagnóstico indicava uma labirintite inocente. Para que se preocupar? Meses depois, o escritor encontra-se a caminho do centro cirúrgico de um hospital, para uma "cirurgia brutal", a trepanação.

Ou seja, os médicos iam lhe abrir a cabeça. Era portador de um aneurisma cerebral (que os médicos chamam pelo dançante nome de veia bailarina), "uma granada dentro de minha cabeça, que podia explodir a qualquer momento". Por sorte, a granada fora diagnosticada a tempo. Se explodisse, ia deixá-lo inválido, um vegetal. Enquanto aguarda a operação, mais ou menos como o náufrago que está se afogando, o escritor dá um balanço em sua vida; a ameaça do aneurisma, a ansiedade se misturam a velhas perplexidades, revê situações, amigos, como num cineminha particular, reflete, indaga a si mesmo.

Como observa Deonísio da Silva, "Veia Bailarina é um livro sobre a dor, o medo, as nossas perdas de cada dia, as do varejo, e aquelas acumuladas ao longo da vida, no atacado". Mas, em nenhum momento, felizmente, o escritor sucumbe à tentação de se lamuriar. A situação é inquietante, dramática, mas o tom é suave, bem-humorado, por vezes sarcástico. Após o êxito da operação e a recuperação, com o prazer de se constatar vivo e saudável, o escritor extrai de toda aquela amarga experiência uma lição elementar. Tinha de recomeçar. Viver a sua vida, com o que ela tem "de bom e ruim, com alegrias e inquietações, sofrimento e felicidade, encargos, chatices, encontros e desencontros". A redescoberta da vida.

Para o #QuartaCapa cujo tema é "Livros em que doenças tem um papel central”, trago Veia bailarina (Ignácio de Loyola Brandão). Segundo o próprio autor, seu "livro de autoajuda". Foi escrito no contexto da descoberta, tratamento e cirurgia para operar um aneurisma cerebral. O relato autobiográfico traz memórias, reflexões e também ilustrações e fotos o tema: dados do prontuário, receitas, eletrocardiogramas, diagramas explicando a doença etc. Gosto muito dessas duas passagens:

p. 110: "Temos todos de participar da corrida, sendo que os vencedores se alternam em períodos cada vez mais curtos no pódio. Quem consegue eliminar a ansiedade por não estar no pódio; quem consegue simplesmente viver, tirar prazer e sentir alegria no estar vivo, encontrou o caminho. É excitante observar de fora. Estar à margem da neurose e da absoluta tensão. Não precisar provar nada, sustentar posições, não possuir montes de dinheiro, dispensar o status. Ganhar serenidade, atingir a felicidade relativa, uma vez que ela não existe absoluta".

p. 138: "Aonde foi aquele homem que queria viver aventuras? Não vivi nenhuma emocionante [...] Cada um vive sua aventura, desafia seus perigos ao seu modo , porque bem ou mal, consciente ou inconscientemente, desenvolvemos defesas e ataques, nosso modo de ser. Tudo o de que se necessita é um projeto, por menor que seja. Na verdade, não precisamos de muito na vida. Basta vivê-la sabendo olhar, desfrutar o momento, usufruir de cada coisa, mergulhar e não ficar à superfície dos amores, relações, crenças. Ficar ansioso pelo que seja de fato motivo para ansiedade. Não há tempo para se fazer isto? Não será feito, ou será feito o possível, dentro do limite. Há pessoas que rompem os limites? Há. Muitas. Que eu não fique angustiado por não ser uma. Não está em meu temperamento, não é do meu feitio. Não é conformismo nem acomodação, é suportar o real, não viver o imaginário. Quem está falando? Rompemos limites quando menos esperamos".

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Veia bailarina