Foi então que me vi numa gare extremamente vazia. Tão vazia que nem a minha sombra se refletia nela. Alguém, uma voz, me sussurrou ao ouvido: Cafarnaum.
Quando o trem desapareceu sob o túnel, senti de súbito que estava perdido: chamei-me pelo nome para sentir minha presença, em vão busquei o último cigarro sob o paletó: os trilhos, apenas os trilhos por todos os lados. Não era noite nem era dia, as lâmpadas não sabia se estavam acesas ou estavam apagadas, um portão luzia ao fundo e todas as setas se dirigiam para ele. Sentia-me tão lúcido que nem um instante me ocorreu a hipótese de estar sonhando, dormindo, ou mesmo morto: agora as minhas pernas me levavam contra a minha vontade, eu estava a cavalo sobre mim mesmo, era um centauro e o meu nome já não formava qualquer sentido: mesmo se houvesse uma parede em frente eu a transporia sem dificuldade. Cafarnaum – dizia a tabuleta em vermelho, de repente em azul.
E então veio a praça a perder de vista, nem uma árvore, nem um poste: apenas as casas ao redor, mudas, surdas, todas iguais como refletidas num jogo de espelhos – e o céu vazio por cima. Pus-me a trotar pela praça, garbosamente como se me olhassem milhões de olhos, eu era positivamente um animal de circo: aplausos unânimes ressoaram das pedras do chão e das esquinas, meus cascos batiam palmas e o eco lhes respondia de cada interstício: toda uma multidão ululante: E se fossem lobos? De medo estaquei a um canto, as narinas no ar, o rabo tenso. Um frio glacial vestia o enorme silêncio, antes eu não sentira o frio nem o calor, simplesmente não sentia: puxei a aba do paletó, de novo era eu dentro de mim, os olhos me vendo como dentro de uma vitrina.
#QuartaCapa